Dionísio Garcia – meio século de música


Açorianíssimo, Vítor Cruz, Teófilo Frazão, Green Band, Os Coriscos, João Cunha, Capitalistas, WJFD e Diana, elementos fortalecedores do rico percurso do músico e... do homem!


A música foi sempre a sua grande companheira em mais de meio século de percurso artístico repartido nos Açores e os Estados Unidos. Efetivamente desde muito novo que se envolveu na música, dando os primeiros passos ainda na juventude na ilha de S. Miguel, pela mão do conceituado e saudoso músico Teófilo Frazão no Solar da Graça em Ponta Delgada, a sua primeira escola no mundo do espetáculo.
“Tudo começa em S. Miguel, muito jovem aos 14 anos, na orquestra de Teófilo Frazão, em que tive a sorte e o privilégio de conhecer músicos de grande qualidade, que me ensinaram muito e cujo aprendizagem foi muito útil para o futuro”, começa por dizer ao PT Dionísio Garcia, que sublinha em seguida a sua ligação a grupos musicais de referência nos Açores, na década de 70. 
“Tive um projeto muito engracado, o Green Band, com o Furtado Costa, o vocalista, uma grande voz, um projeto lindíssimo e que me enriqueceu musicalmente”. 
Depois de passar por alguns conjuntos como os Lords, sempre como baterista acontece uma outra etapa rica e interessante no seu percurso, fazendo parte do espetáculo de variedades Açorianíssimo, que lhe enriqueceu como entertainer, mercê do convívio com nomes famosos do mundo do espetáculo nos Açores.
“Eu era o braço direito do saudoso Victor Cruz. Era um espetáculo semanal, todas as semanas havia um show diferente. E aqui nasce o conjunto Os Coriscos”, recorda Dionísio Garcia esses tempos e os vários projetos de que fez parte, que o valorizaram como bom músico e showman que hoje é, num percurso de 51 anos, 11 dos quais nos Açores e os restantes 40 aqui pelas comunidades lusas da Nova Inglaterra.
Hoje Dionísio Garcia é um referência incontornável do mundo da música e do espetáculo por estas paragens, de tal forma que podemos afirmar estar-se perante um dos nossos grandes valores, não apenas como intérprete e compositor, mas também na sua faceta de empreendedor de grandes iniciativas no mundo comunitário luso da Nova Inglaterra.
O nome de Dionísio Garcia está ligado às celebrações do Dia de Portugal em New Bedford, que ganharam outra dinâmica e dimensão ao envolver-se nesta manifestação de portugalidade, bem como as Grandes Festas do Espírito Santo da Nova Inglaterra, que com a inclusão, muito contribuiu para que houvesse uma maior participação dos jovens, através da Noite da Juventude. Quem não se recorda da organização Artistas Unidos da América (AUA)? Não foi por ele criada mas com a sua aderência esta iniciativa ganhou outra dinâmica.
Para além disso, Dionísio Garcia tem-se envolvido na organização de grandes espetáculos na comunidade. Quem não se recorda do espetáculo de homenagem póstuma ao saudoso músico e guitarrista dos Lovestreet, Lucas Cabral, em dezembro de 1993, no auditório do New Bedford High School, completamente esgotado, ou ainda na homenagem póstuma ao músico e produtor Jack Sebastião, num espetáculo de grande qualidade e envolvência de músicos e artistas da comunidade.
Veio para os EUA aos 25 anos de idade, onde encontrou um mundo diferente tendo-se adaptado rapidamente. Um dia, respondendo a um anúncio na televisão portuguesa de New Bedford, ingressa no conjunto Os Capitalistas e aqui conhece nova etapa na sua vida artística, desta vez como vocalista.
“Se hoje sou vocalista devo-o inteiramente ao meu amigo e colega de música de muitos anos, João Cunha. Foi ele que me convenceu a assumir esse cargo de “front man”... Aliás, há dois músicos que me marcaram profundamente no meu percurso artístico de meio século: Teófilo Frazão, em São Miguel, e João Cunha, aqui nos EUA”, reconhece Dionísio Garcia.
Com este conceituado conjunto de New Bedford, conheceu novos palcos e outras comunidades lusas pela Nova Inglaterra, Califórnia e Canadá, alguns discos gravados e a verdade é que os Capitalistas é outra referência de qualidade com quem Garcia muito tem aprendido.
Na sua faceta de compositor tem já gravado um álbum a solo. “Recordações” é um disco que excelente qualidade e que ainda hoje é passado pelas rádios da diáspora lusa.
Dionísio é um homem que não tem medo de desafios, de abraçar projetos e por isso sente que já fez muito nesta arte.
“Sou de desafios e gosto de coisas que aconteçam repentinamente. Já fiz de tudo na música, já toquei numa banda de música, o grupo folclórico de Santa Cecília foi fundado por mim e pelo Jerónimo Cabral... já toquei num circo a substituir um baterista. Tenho feito de tudo”, recorda Garcia.
A sua última etapa foi ingressar na WJFD, a rádio portuguesa de New Bedford, tendo abraçado este projeto há 25 anos e que considera a sua segunda casa. 
“Este foi de facto o meu maior desafio. Não aconteceu por acidente mas foi quase por isso. Em 1997 fui convidado para vender publicidade... Durante alguns meses foi o que fiz, até que um dia alguém na estação me incentivaram a fazer um programa. Comecei a fazer o Sábado Musical. A WJFD hoje em dia é a minha segunda casa. É mais uma maneira de estar envolvido na música. Gosto disto”.

Distinção da Assembleia Legislativa Estadual de Massachusetts
Entretanto, a carreira de Dionísio Garcia não passou despercebida a entidades políticas lusas destas paragens e eis que o deputado estadual de Massachusetts, António Cabral, decidiu atribuir um diploma de honra ao nosso entrevistado, há alguns anos, numa cerimónia inserida nas celebrações do Dia de Portugal na Assembleia Legislativa Estadual de MA.
“Foi o reconhecimento de uma carreira na música e de serviço à comunidade através de várias iniciativas que ao longo dos anos fui abraçando”, cita Dionísio Garcia, que encontrou uma adversidade na vida: “Fui acometido de doença grave e cheguei a pensar que era o fim, mas graças à minha esposa, Diana Garcia, foi-me concedida nova oportunidade de viver através da doação de um rim. Isto marca-me e se hoje estou vivo devo isso à minha esposa”, sublinha emocionado Dionísio Garcia.

Novo disco e digressão aos Açores
O novo disco de Dionísio Garcia tem por título “Meio Século de Música” e inclui seis temas, um dos quais “Eu fiz um poema”, do amigo de longa data, Luís Alberto Bettencourt, e tem a participação de conhecidos músicos e intérpretes da comunidade, como Vânia Bilac, Manel D’Alma, Nuno Capataz, Tony Henriques, Joel Hiller e Rob Leonardo.
“Concretizar um dos grandes sonhos que acalento é atuar no Teatro Micaelense, Coliseu Micaelense, onde atuei durante 10 anos, acompanhado por músicos açorianos e as coisas estão em andamento para que isso venha a realizar-se possivelmente já no próximo mês de setembro. Será um espetáculo denominado DIONÍSIO E AMIGOS”, conclui Dionísio Garcia.