Vinte anos depois - Recordando 11 de Setembro de 2001

 

Transcorre este sábado, 11 de setembro, o 20º aniversário desse acontecimento horrífico que chocou os EUA e o mundo. O ataque terrorista, numa ofensiva em cadeia e de proporções jamais vistas no mundo, sacudiu as cidades de New York e Washington, DC, com a destruição das torres gémas do World Trade Center e danificação do Pentágono. Ficou marcado na história como um dos dias mais negros da história do mundo livre. Os terroristas responsáveis pelo atentado foram vinculados à organização fundamentalista islâmica Al-Qaeda. Os seus autores sequestraram quatro aviões comerciais de passageiros, dois deles colidindo contra as Torres Gémeas do World Trade Center em New York, que se desmoronaram duas horas após os impactos, destruindo edifícios vizinhos e causando vários outros danos. Um terceiro avião colidiu contra o Pentágono, a sede do Departamento de Defesa dos EUA, nos arredores de Washington, DC e um quarto avião caiu em campo aberto próximo da localidade de Shanksville, no Pennsylvania, depois de alguns passageiros e tripulantes terem tentado retomar o controlo da aeronave dos sequestradores que a tinham reencaminhado na direção da capital norte-americana. Não houve sobreviventes em qualquer um dos voos. Quase três mil pessoas morreram durante os ataques, incluindo os 227 civis e os 19 sequestradores a bordo dos aviões. A esmagadora maioria das vítimas eram civis, incluindo cidadãos de mais de 70 países, contando-se entre eles portugueses e lusodescendentes. 
Os sete portugueses mortos foram: António Augusto Tomé da Rocha, 34 anos, natural de Vila Verde (Guarda), que vivia em East Hannover, New Jersey e trabalhava para a empresa financeira Cantor Fitzgerald Securities. Rocha estava no 105º andar da Torre 1 e ainda teve tempo de telefonar à mulher. Os outros portugueses mortos foram João Alberto Fonseca Aguiar, de New Jersey, Manuel da Mota, de Long Island, António José Rodrigues, de Long Island, Leah E. Oliver, 25 anos, de Dartmouth, MA, que trabalhava na companhia de seguros Marsh USA, no 96º andar da Torre 2.
Nos aviões sequestrados em Boston e usados nos atentados estavam dois lusodescendentes: Christopher Mello, 25 anos, natural de Fall River, funcionário da companhia Alta Communications, de Boston, e Dorothy Araújo, 82 anos, residente em Long Beach, Califórnia, que viera a Boston passar uns dias.
Portuguese Times deu obviamente destaque, durante algumas semanas, a esta trágica ocorrência e consultando as edições do mês de setembro de 2001, podemos verificar testemunhos de dois lusodescendentes que viveram de perto esses momentos de terror. 

Viu a morte bem perto

A engenheira química Diane Melo, natural de East Providence, RI e filha de pais oriundos da Fazenda do Nordeste, ilha de São Miguel, foi uma das milhares de pessoas que presenciaram a tragédia do World Trade Center em NY. Em declarações ao PT, entrevista pelo nosso colega Augusto Pessoa, referiu: “Vi a morte de perto... Diariamente tomava o pequeno-almoço no World Trade Center e um atraso de minutos salvou-me a vida. Costumava deixar o meu apartamento em New Jersey por volta das 8:30 da manhã. Normalmente chegava à área das torres por volta das 9:00 e ao dirigir-me para a estação do combóio vi uma das torres em chamas, mas nunca me passou pela ideia qual teria sido a origem do incêndio e momentos depois, ao sair do metro, deparei-me com as duas torres a arder”, referiu na ocasião a jovem lusodescendente, que fugiu a correr juntamente com uma multidão em pânico para o Times Square e momentos depois contactava a família em East Providence informando-a que estava bem.
A edição de 12 de setembro de 2001 do Portuguese Times trazia em grande destaque de capa o seguinte título: “Terror nos EUA”, com uma foto da destruição de uma das torres gémeas. Eram 8:45 da manhã quando alguém telefonou à redação do PT que uma das torres gémas havia sido atingida por um incêndio. Na altura, nem os repórteres das várias cadeias televisivas suspeitavam de ataque terrorista, apenas mencionando que um avião comercial de passageiros havia embatido numa das torres. No entanto, quinze minutos depois um segundo avião embateu na outra torre, confirmando-se tratar-se efetivamente de um ataque terrorista.

Um médico lusodescendente à porta do inferno

Um outro testemunho de um lusodescendente ao PT sobre esta trágica ocorrência que chocou a América e o mundo foi recolhido em apontamento especial ao Portuguese Times pelo nosso colega Henrique Mano, junto do médico Paulo Alexandre Pacheco, natural de Angra do Heroísmo, ilha Terceira, radicado em New York e que foi dos primeiros a socorrer os feridos. 
Dez horas de voluntariado num carro dos bombeiros a poucos quarteirões de distância da montanha de escombros do World Trade Center converteram o dr. Paulo Pacheco em notícia nas páginas do New York Times, na revista Visão e no canal televisivo Fox News. Filho do saudoso Frederico Pacheco e de Deodete Pacheco, de Bristol, RI, entrevistado pelo New York Times e pela Fox News, referiu ao PT: “Nunca mais vou ser o mesmo, não se esquece tanta destruição assim facilmente... É difícil concentrar-me no meu trabalho. É devastador, continuo a ouvir as vozes daquelas pessoas soterradas a pedir ajuda em vão. Não podemos fazer nada. É uma sensação horrível, não poder dar a mão a quem precisa...”

Onda de patriotismo nos EUA

Estes brutais atentados terroristas provocaram em todo o país e no mundo manifestações de patriotismo e de pesar pelos milhares de mortos com a realização de diversas cerimónias de homenagem. George W. Bush, na altura presidente dos Estados Unidos, salientou: “Quer trazemos os nossos inimigos à justiça ou a justiça aos nossos inimigos, justiça será feita”.
Pouco tempo depois os Estados Unidos invadiram o Iraque e o Afeganistão. O presidente iraquiano Saddam Hussein, outrora aliado dos EUA na guerra contra o Irão, foi abatido, o mesmo acontecendo, anos depois, com a invasão ao Afeganistão e a retirada dos Taliban do poder e consequente assassínio em 2011 de Osama Bin Laden, líder da organização terrorista Al-Qaeda e supostamente um dos autores da estratégia terrorista dos ataques do fatídico 11 de setembro de 2001.
Vinte anos depois podemos constatar que o 11 de Setembro de 2001 deu origem a uma série de novas leis, procedimentos e a criação de departamentos federais em nome da “guerra ao terror”, que moldou a estratégia de política externa norte-americana e redefiniu o conceito de segurança nos EUA. Nada volta a ser como dantes.
Contudo, vinte anos depois, o Afeganistão regressa às mãos do poder dos Taliban e o Iraque continua a ser conotado mais como uma coletividade de zonas tribais do que verdadeiramente um país, tal como, aliás o Afeganistão.
O radicalismo islâmico, com uma ideologia de transformar a religião em doutrina política, apoiada pela luta armada, constitui ainda uma ameaça e os líderes mundiais devem desenvolver uma estratégia comum para lidar com o problema.