Senhor Santo Cristo dos Milagres na diáspora

 

O açoriano aportou a terras dos EUA trazendo além da força trabalhadora e a esperança na vitória a devoção ao Senhor Santo Cristo dos Milagres.
A compra da casa e a educação dos filhos eram mais dois projectos que a terra do Tio Sam lhes pro­porcionou para no meio da generalidade os mais afoites e bafejados pela sorte en­veradarem por bem su­cedidas inciativas co­mer­ciais e industriais.
Mas no coracão de cada açoriano há um altar perpé­tuo ao Senhor Santo Cristo dos Milagres a quem reza as suas orações e agradece as dádivas concedidas.

Igreja do Senhor 
Santo Cristo 
em Fall River

Foi o padre António Go­mes da Silva, da igreja de São João Baptista de New Bedford que obteve auto­rização do bispo de Providence para voltar a formar a missão de Fall River.
Nos cantos da Columbia Street e Canal Street, a 4 de Maio de 1889, é adquirido um modesto templo de madeira onde hoje se ergue imponente a igreja do Senhor Santo Cristo.
Depois das mais diversas contribuições com que se puderam comprar as cadei­ras e os materiais para a re­construção, estávamos nós em 1889 quando tiveram início os serviços religiosos.
A devoção ao Senhor Santo Cristo dos Milagres aliada à prosperidada da missão dá origem a que esta seja elevada a paróquia, o que acontece a 25 de Junho de 1892 sob a responsabi­lidade do padre Cândido de Ávila Martins. Mas como a comunidade portuguesa maioritariamente oriunda dos Açores estava espalhada pela cidade, os residentes de Fall River tinham de per­correr uma longa caminhada para assistir às cerimónias reli­giosas na Igreja do Senhor Santo Cristo.
Esta situação dá origem à criação da missão do Arcanjo São Miguel, que ficou à responsabilidade do padre Cândido Martins por seis anos.
Entretanto, o padre Francisco Silveira Mesquita passa a partir de 13 de Junho de 1898 a ser o vigário da igreja do Senhor Santo Cristo.

Igreja de Nossa Nossa Senhora do Rosário 
e Santo Cristo dos Milagres 
em Providence

Quem se desloca na mo­vimentada estrada 195 depara antes de entrar nas curvas que atravessam a cidade de Providence, com uma bela igreja centenária que atesta a fé dos portu­gueses. Estamos a falar da igreja de Nossa Senhora do Rosário onde anualmente têm lugar as festas em honra da padroeira e do Senhor Santo Cristo dos Milagres.
Recuando nos tempos e por altura de 1850 começa a concentrar-se em Providence a comunidade portuguesa. O auge é atingido em 1876 quando a capital do estado de RI começa a falar por­tuguês à mistura com outros grupos étnicos. Já com uma volumosa comunidade tor­na­va-se obrigatório o apoio moral e espiritual baseado nos princípios religiosos em que os portugueses foram criados.
Depois de prestar idêntico serviço à comunidade de Fall River, foi o padre António Freitas, da igreja de São João Baptista, que passou a dar apoio espiritual em igreja provisória montada no salão da escola de São José na Hope Street.
Para sublinhar a dedicação do serviço podemos acres­centar que a deslocação de New Bedford para Providence era feita em carros de cavalos ou nos próprios cavalos.
Atendendo aos anseios e naturais exigências da co­munidade radicada em Pro­vidence, a Santa Sé dá auto­rização para a constituição da paróquia de Nossa Se­nhora do Rosário, que acon­tece a 18 de Fevereiro de 1886. Estava fundada a primeira igreja portuguesa de RI a partir da qual foram aparecendo as que ainda hoje servem as diversas comunidades radicados pelo estado. Aliado ao culto a Nossa Senhora vem com ele e dado a grande percentagem de açorianos radicados por estas paragens o culto ao Senhor Santo Cristo dos Milagres.
O padre António Serpa, natural da ilha do Pico, foi o primeiro padre residente que acontece em 1886 para em 1906 ser inaugurada a igreja.
Depois do falecimento do padre Serpa, que ocorre em 1918, assume as directrizes espirituais da comunidade, o padre António Rebelo, que, curiosamente era continental e que se mantém até 1965 ano em que viria a falecer.
E aos poucos vamos entrando num historial mais recente em que os nomes fazem parte do elenco da actual comunidade.
O reverendo padre Luís Diogo, hoje na situação de reforma, natural de São Miguel, esteve à frente da igreja de Nossa Senhora do Rosário até 1972, ano em que foi transferido para a igreja de Santa Isabel em Bristol, onde também é festejado anualmente o Senhor Santo Cristo dos Milagres.
Após o padre Luís Diogo assume a responsabilidade da igreja de Nossa Senhora do Rosário o padre António Paiva, também natural de São Miguel, que dá continuação à mais antiga igreja portuguesa de RI, onde o culto ao Senhor Santo Cristo dos Milagres continua a ser uma bonita realidade.

Culto do Santo Cristo em Bristol desde 1918
O culto ao Senhor Santo Cristo dos Milagres, na acolhedora e típica vila de Bristol tem por palco a igreja de Santa Isabel, que serve de retiro e consolo espiritual à comunidade lusa ali radicada.

Santo Cristo Micaelense Club
A primeira festa e procissão em honra do Senhor Santo Cristo dos Milagres em Bristol foi no dia 13 de Maio de 1918, sob os auspícios do extinto . “Santo Cristo Micaelense Club”, outrora com sede própria na Thames Street. Os sócios desta organização constituída por elementos oriundos de São Miguel, no intuito de darem continuidade ao culto que trouxeram das terras de origem, organizaram peditórios para a compra da imagem que hoje se venera com todas as honras na igreja de Santa Isabel.
Daí para cá a imagem vem à rua em sumptuosa procissão que percorre as apertadas artérias daquela vila de RI, semelhantes às ruas de Ponta Delgada, que anualmente se vêm apinhadas por milhares de pessoas.
Curiosamente a imagem custou $214.09 e mais $22.00 para a primeira capa, oferta de um anónimo. 
O padre Francisco Vieira foi o responsável pela primeira manifestação religiosa em honra do Senhor Santo Cristo à frente de uma comissão constituída por: João Rodrigues, Manuel Pacheco, Isidoro Matias, João Sousa, que embora já falecidos deixaram o testemunho aos vindouros que anualmente revivem em Bristol aqueles tradicionais festejos.

Portuguese Colonial Club do Santo Cristo surge em 1925 
Com o desaparecimento do Santo Cristo Micaelense Club, surge mais tarde o Portuguese Colonial Club do Santo Cristo para em 1926 dar continuidade aos festejos que fazem movimentar a comunidade. 
A primeira direcção foi constituída por: Guilherme Veríssimo Pereira, Manuel Pacheco, Manuel da Silva, José Furtado, Denis Agostinho, João Vieira, Serafim do Rego, José Xavier, Manuel Sardinha e Ernesto Prenda.
Ao rebentar a Primeira Guerra Mundial, o Clube Santo Cristo deixou de fazer os festejos, o que levou duas crentes a aproximarem-se de monsenhor Henrique Rocha para ser dada continuação às festas.
Assim passaram à história no âmbito dos festejos do Senhor Santo Cristo em Bristol, Maria Amélia Sousa, casada com Uriel de Sousa e ainda Manuel Teixeira, que resolveram abrir uma subscrição para poder realizar as festas e mandar fazer um novo andor, réplica do que se encontra no Convento da Esperança em Ponta Delgada.
A comunidade portuguesa foi e é fertil em artistas, pelo que não é de admirar que entre eles tenha aparecido Manuel Machado da Silva, autor do novo andor do Senhor Santo Cristo.
As ferramentas utilizadas para esculpir a imagem estão em posse de sua filha Olga Botellho.
Por sua vez, Maria Maciel foi a autora dos ornamentos aveludados e Madre Coelho responsável pela bela capa. As flores de seda foram uma inspiração da Madre Maria da Luz Brum e o medalhão de Laurindo do Monte, de Fall River.
Uma nota curiosa a juntar ao historial dos festejos do Senhor Santo Cristo em Bristol. 
No ano de 1942 foi estreado o novo andor que seria transportado por soldados que se encontravam no serviço militar e que depois seguiam para a guerra. Os jovens eram todos filhos de portugueses radicados por estas paragens.
O poder da tradição e da fé no Senhor Santo Cristo têm conseguido manter ininterruptamente as festas em sua honra em Bristol. Esta manifestação da comunidade tem merecido o melhor apoio dos padres que têm servido na igreja de Santa Isabel, cujo dinamismo tem contribuído para que o culto ao Santo Cristo se mantenha com o entusiasmo trazido na bagagem para terras do Tio Sam. Os padres Francisco Garcia Vieira, Manuel Barros, monsenhor Henrique Rocha, Luís Diogo, John Baker, José Rocha, Fernando Cabral e Vítor Silva têm sido os fiéis continuadores das festividades em honra do Senhor Santo Cristo.
A comissão organizadora da passagem dos 90 anos das festas do Senhor Santo Cristo dos Milagres em Bristol é constituída por João Medeiros, António Ávila, Berta Raposo, Kevin Cabral, Joseph Martins.

Igreja de São Francisco Xavier em East Providence
A igreja de São Francisco Xavier de East Providence, sob a administração do padre Victor Vieira, no seio de uma numerosa comunidade açoriana, além das honras que presta ao seu patrono tem também o seu lugar para adoração ao Senhor Santo Cristo dos Milagres. 
“Dizem que a imagem do Senhor Santo Cristo dos Milagres que temos na nossa igreja é das que mais se assemelha ao orginal”, disse ao PT o padre Victor Vieira, natural de São Miguel. 
Sobre a forte devoção que continua a caracterizar o culto ao Senhor Santo Cristo, o padre Victor Vieira acrescentou:
“Aquilo é uma devoção muito querida do nosso povo de São Miguel  e não só, como também dos povos das outras ilhas que também têm grande devoção e grande afecto pelo culto ao Senhor Santo Cristo dos Milagres. Esta fé e esta devoção da nossa gente é muitas vezes devido à condições das nossas próprias ilhas. O Senhor Santo Cristo dos Milagres, que segundo o nosso povo tem uma grande capacidade para operar milagres e para as nossa gentes muitos favores celestes e muitas graças do céu terão vindo para muito boa gente que na sua fé, nas suas angústias, nas suas dores, na procura de uma solução de uma situação grave terão recorrido à veneranda imagem do Senhor Santo Cristo dos Milagres.” 
Mas no momento actual o padre Victor Vieira é pastor na igreja de São Francisco Xavier em East Providence, onde está também bem patente a devoção ao Senhor Santo Cristo.
“Temos uma imagem com mais de 20 anos na igreja que já conseguiu fazer a sua própria história atendendo a que quando se faz a procissão do padroeiro tem sempre lugar de destaque.
Há mesmo quem diga que esta imagem é daquelas que mais se aproxima ao original e tem atraído devotos que na impossibilidade de uma deslocação a São Miguel pedem as bençãos na capelinha em que a imagem se encontra recolhida”, prossegue o padre Victor Vieira, que se tem deslocado a São Miguel onde tem tomado parte na maior manifestação religiosa açoriana.
“Já acompanhei a Ponta Delgada o Bispo Louis Gelineau, quando Bispo de Providence, por volta dos anos 80. Usou da palavra em português e continua a falar dessa sua especial visita a São Miguel com muito carinho e muita saudade. Há cerca de três anos acompanhei o Bispo Robert Mulvee, que ficou encantado com a devoção do povo açoriano e as beleza paisagística da ilha”, prosseguiu o padre Victor Vieira, que periodicamente se desloca aos mais diversos santuários acompanhando grupos de peregrinos.
“Eu como sacerdote admiro e respeito a devoção do nosso povo pelo Cristo sofredor e a mim também me faz compreender e entusiasmar naquela atenção que eu como padre devo dar. Aquela imagem é a representação num dos pontos altos do seu sofrimento enquanto foi apresentado a Pilatos. Daqui seguiu para o Calvário para redimir a humanidade e ser sempre bem lembrado por todos aqueles que amam Deus e mais se aproximam d’Ele através de um Cristo redentor”, concluiu o padre Victor Vieira.

Igreja de Santo António em Cambridge também venera o Santo Cristo
As festividades do Senhor Santo Cristo dos Milagres na igreja de Santo António em Cambridge acontecem precisamente no mesmo fim de semana em que o Santuário da Esperança em Ponta Delgada recebe milhares de fiéis. 
A excepção aconteceu no ano de 2000, quando padre José Ferreira e pela primeira vez se deslocou a São Miguel para tomar parte nas cerimónias no Santuário da Esperança, o que levou a que as festas do Semhor Santo Cristo fossem antecipadas uma semana na igreja de Santo António em Cambridge. 
Este ano as festividades voltaram a ser em simultâneo com uma pequena diferença, enquanto que em Ponta Delgada o céu esteve cinzento e com ameaça de chuva, no domingo da majestosa procissão e que impediu a missa campal, em Cambridge o sol brilhou em dia azul e trouxe à rua a habitual multidão que ladeou as ruas durante a passagem do cortejo religioso.