Presidente Donald J. Trump

 

Num aeroporto, prontos a embarcar, estão os passa­geiros que têm de escolher o seu voo. Todos sabem apenas que os dois pilotos são mentirosos, mas um sabe conduzir o avião, o outro não sabe. A maioria dos passageiros escolheu o piloto mentiroso que não sabia conduzir o avião...

Este título é uma sequência de palavras impensável para dezenas de milhões de americanos. Agora são o futuro da América. Esta vitória é um choque para os média, para os peritos de sondagens e para os líderes democratas.

Clinton acabou por ganhar o voto popular, Trump ganhou o Colégio Eleitoral. Quem é a pessoa que será o 45º Presidente?

Depois de ano e meio de campanha não sabemos como Trump desempenhará as funções básicas de executivo. Não sabemos se tem conflitos financeiros, nunca trouxe a público as suas declarações de impostos, como é norma neste país. Não sabemos se ele faz a mí­nima ideia do que é controlar o maior arsenal nuclear do mundo.

Aqui vai o que sabemos: ele é o presidente-eleito mais mal-preparado da história moderna. Sabemos que mostrou ser temperamentalmente incapaz de liderar esta nação de mais de 330 milhões de habitantes. Sabemos que ameaçou perseguir e prender a sua opositora política, ele tem dito que cortará a liberdade de imprensa. Sabemos que ele mente sem compunção. Disse que diminuirá os impostos aos ricos, cortará e substituirá a proteção de saúde de Obamacare a dezenas de milhões de americanos. Tem insultado mulheres, ameaçou os muçulmanos e os imigrantes e escolheu para aliados íntimos uma combinação de racistas, supremacistas brancos e anti-semitas. Se olharmos além fronteiras, ele rasgaria imediatamente o acordo com o Irão para evitar produzir armas nuclea­res, poderia dar cabo da NATO e do acordo NAFTA (USA, México e Canadá). Repudiará o acordo de Dezembro passado em Paris sobre a mudança do clima e já agora, iniciaria uma guerra comercial com a China.

Também sabemos que, com os Republicanos contro­lando o Senado, encherá o Supremo Tribunal de extremistas de direita.

Os Republicanos controlarão todos os departa­mentos do Governo Federal. Trump não será contro­lado nos seus instintos vingativos.

Como se chegou a este precipício?

A intervenção do director do FBI, James Comey, junto do Congresso no dia 28 de Outubro, teve grande influência. Há quem diga que a foto dele deveria estar no dicionário junto das palavras “fiasco” e “catástrofe”. Homem competente, profissional, Republicano, indicado para esta posição com um mandato de 10 anos por Obama, falhou redondamente depois da decisão a que chegou em Julho passado.  Examinando um computador do ex-congressista, Anthony Weiner, ex-marido de Huma Abedin, conselheira e confidant de Clinton, verificou que havia mails de Clinton. Em vez de investigar se havia aí algo de interesse, comu­nicou imediatamente (28 de Outubro) com o Con­gresso. Fê-lo contra o conselho de oficiais seniors do Departamente de Justiça que lhe lembraram que isso (reabrir o caso dos emails já fechado) seria contra as regras do mesmo departamente de que, nos últimos 60 dias antes das eleições, ninguém deve comunicar nada sobre investigações em curso. James Comey é o primeiro director do FBI, depois de J. Edgar Hoover, a imiscuir-se em política.

Nesta altura, Hillary Clinton tinha o ímpeto da campanha a seu favor e, onze dias antes das eleições, estava a prever-se uma grande vitória dela. No Domingo, três dias antes das eleições, o Director do FBI comunicou ao Congresso que, afinal, esses mails são repetições sem interesse para o caso e que, portanto, a sua decisão de Julho mantinha-se inalterada. Entre­tando todo o prejuízo estava feito, principalmente no que dizia respeito às eleições para o Senado em que os Democratas tinham grandes possibilidades de ganhar a maioria. Presume-se que James Comey não teve intenção criminosa de interferir politicamente nas eleições, mas o mal já não tinha remédio.

Esta surpresa da vitória de Trump alguns pensam ser um seguimento do Brexit no Reino Unido e que será seguido na França e depois na Alemanha, segundo os peritos da Europa e que deve forçar um exame e reformas muito profundas à indústria de sondagens e actividades afins. Tecnicamente, dizem os peritos, não são compreensíveis os erros do Reino Unido e a incrível surpresa dos Estados Unidos. É frequente e compreen­sível haver divergências numa campanha de ano e meio, mas o que se verificou foi um erro colectivo que não tem explicação aceitável.

O partido Democrata vai ter que fazer um exame de consciência geral depois desta derrota e reorganizar para recuperar. O que fará Trump ao partido Republi­cano não se sabe, ele é naturalmente o líder natural do partido.

Outro factor que explica, em parte, esta surpresa. A supressão nos últimos anos do voto sobretudo nos estados do Sul com governo republicano. Várias leis exigindo, por exemplo, Bilhete de Identidade (nunca foi tradição neste pais) para se registar e para votar. Em alguns lugares, a exigência de certidão de nasci­mento que, por vezes, principalmente tratando-se de pessoas idosas, não é facil conseguir. Naqueles  estados este ano diminuiram os postos de voto em 868. Só no Texas eliminaram 400 postos de voto. Isso obriga a levar horas na linha de voto, quer seja no dia de eleição quer seja no voto adiantado cujas horas também foram reduzidas. Além disso, é de mencionar certos truques usados para enganar gente simples e rude, como anunciar que a eleição foi mudada para dois dias depois; ou que, se quiser votar, tem de apresentar os formulários de impostos, etc.

E agora? Agora há que aceitar o resultado e as consequências. Em primeiro lugar, há que esperar que Trump Presi­dente seja diferente de Trump Candidato. Parece que será difícil. Um comentador disse “quando a pessoa mais poderosa do mundo é impreparada, deseducada, indisciplinada, a América e o mundo vão ter 4 ou 8 anos de excepcionalmente perigosa imprevisibilidade, instabilidade e aflição”.

Os discursos de Obama e de Hillary Clinton desta manhã (Quarta-feira) tiveram muita classe pedindo ao país que se juntasse aos esforços que, naturalmente, se esperam serão feitos por Trump e pelos vencedores na tentativa de reunir o povo, que ficou muito dividido por esta campanha, principalmente pela publicidade negativa praticada pelas duas partes. Curioso: parece que os primeiros cálculos indicam que esta campanha custou cerca de 1.2 mil milhões de dólares.

Esperamos que o grupo encarregado da transição para a nova administracão proceda da melhor maneira para que tudo corra bem. O Presidente Obama, como é da praxe, telefonou a Donald Trump esta manhã (Quarta-feira) dando-lhe os parabéns e convidando-o a um encontro na Casa Branca para oferecer todos os seus préstimos, assim como da sua Administração para a eficiente transição para a nova Administração.

No dia a seguir às eleições, presenciaram-se grandes manifestações pacíficas em, pelo menos, sete grandes cidades como New York, Boston, Chicago, Filadélfia, etc., etc.  Não se sabe quem organizou tais manifes­ta­ções; são claramente contra a eleição de Trump e a gran­de maioria dos participantes é jovem e de várias cores.

Pessoalmente, desejo boa sorte ao Presidente eleito Donald Trump. Vai precisar da ajuda de Todos os Santos.