
Foi com profunda emoção que recebi o convite para representar a comunidade nas Grandes Festas do Espírito Santo da Nova Inglaterra e devo dizer que o fiz com enorme prazer, representar esta comunidade a que estou ligado há 46 anos. É de facto uma ligação contínua e ininterrupta, uma vez que ao longo deste tempo sempre me identifiquei com a comunidade portuguesa através do meu direto envolvimento em várias iniciativas sócioculturais e da minha ligação a algumas instituições bem identificativas da nossa presença aqui neste país.
Para já devo dizer que vivi e cresci nesse ambiente de família de profunda proximidade à espiritualidade e religiosidade e particularmente no culto ao Divino Espírito Santo. Foi nesse ambiente familiar que fui assimilando os valores e princípios humanos, da solidariedade, da caridade, do serviço e respeito ao próximo, mais tarde cultivados e aprofundados na minha aderência aos seminários de Ponta Delgada e de Angra recebendo uma educação que me marcou e da qual me orgulho. E são esses valores que ainda hoje tento praticar e cultivar designadamente na minha vida profissional, onde desempenho o cargo de diretor do semanário Portuguese Times desde 2012 tentando dignificar o cargo que ocupo, tendo sempre presente os valores da ética, do sentido de responsabilidade e do dever que sinto em lutar pela sobrevivência deste prestigiado e importante órgão de comunicação social para bem também da comunidade.
Estar à frente de um jornal étnico aqui pela comunidade significa literalmente ter espírito de voluntariado, alguma carolice, muitas vezes sem qualquer recompensa, por falta de recursos de toda a ordem por parte da entidade patronal para aventurar-se em mil despesas que este cargo por vezes o obriga. Mas o sentido de responsabilidade vem ao de cima. Quem dirige um órgão de comunicação social tem também de ter humildade e saber aceitar as críticas, porque somos humanos, erramos e estamos sempre a aprender. É com este lema que tenho vivido, mas sempre tentar fazer melhor e aprender com os erros, mesmo tendo em conta que por vezes há críticas injustas vindas de quem não conhece como isto funciona.
Mas o que interessa para mim é que tenho grande orgulho em pertencer a uma comunidade que tem sabido ao longo desses anos preservar os seus costumes, tradições e cultura – e isso pode constatar-se através de muitos sinais vivos da nossa presença – na defesa, afirmação e reforço da sua identidade cultural e ao mesmo tempo integrando-se naturalmente na sociedade de acolhimento, de tal forma que hoje temos uma presença clara, participativa e atuante nos mais diversos quadrantes da sociedade em que estamos inseridos.
É com tudo isto que me identifico, mas também quero aqui sublinhar que tenho aprendido muito com esta comunidade ao longo de quase meio século de açoriano na América pela forma como mantém e defende as suas tradições. Obrigado a quem me escolheu para representar a nossa comunidade. Obrigado por tanta palavras de carinho que recebi de todo o lado!
“Portuguese Bands of California”, o novo livro de Tony Goulart
Tony Goulart acaba de editar novo livro intitulado “Portuguese Bands of California - 1898-2023”, publicado pela Portuguese Heritage Publications (PHPC) da Califórnia.
Recebemos um exemplar há dias, oferta do autor, a quem agradecemos (já vamos a meio na leitura), pois que o tema de bandas filarmónicas nos EUA, e neste caso na Califórnia, é para nós apetecível, interessante e rica, até porque está obviamente inserida no contexto das diversas correntes migratórias para diversas zonas do país. É que a imigração açoriana para os EUA, data de meados do século XIX através da caça à baleia e safra do atum, da corrida ao ouro no oeste norte-americano, da exploração das zonas agrícolas sobretudo na Califórnia e Hawaii, da revolução industrial no início do século XX e do “boom” da indústria têxtil na costa leste dos EUA. Os portugueses dos Açores trouxeram consigo os seus costumes, tradições e cultura, e neste caso, a música, as famosas bandas, que já existem nos Açores desde meados do século XIX. Já agora refira-se que, segundo dados do autor do livro, a primeira banda filarmónica na Califórnia surgiu em 1898 pela mão do picoense José Paulino da Silveira e Costa: the Arcade Band, em Arcade, no distrito de Sacramento.
Tony Goulart, um picoense natural de São Caetano tendo imigrado para a Califórnia em 1974, onde obteve o mestrado em Recursos Humanos pela Universidade de San Francisco tendo criado uma companhia de “drywall”, com o irmão, tem dado um enorme e importante contributo na preservação dos diversos sinais da presença lusa na Califórnia: foi um dos fundadores da antiga Câmara de Comércio Portuguesa do vale de Santa Clara e o seu nome está também ligado à fundação da Portuguese Heritage Publications, elemento determinante na publicação de várias obras que têm a ver com presença da comunidade naquele estado do Pacífico. Goulart, refira-se, lançou dois outros livros: The Holy Ghost Festas: A Historic Perspective of the Portuguese in California (2002) e em 2008 o livro sobre erupção do vulcão dos Capelinhos na ilha do Faial e consequente imigração de faialenses e outros açorianos para os EUA em 1957: “Capelinhos: A Volcano of Synergies: Azorean Emigration to America”.
Este profundo envolvimento e largo contributo para história mais recente da imigração açoriana para aquele estado tem sido reconhecido a nível oficial: recebeu do Governo português, em 1996, a Comenda da Ordem de Mérito e a Insígnia Autonómica de Reconhecimento pela Assembleia Legislativa Regional dos Açores, em 2011, entre outras distinções.
São abordados vários temas, a saber: “Azorean Immigration to California”, “Band-Related Terminology”, “Bands in the Azores”, “California’s Portuguese Bands”, “Band Architecture”, “Basic Band Instruments”, “The Patriarch of Portuguese Bands in California”, “Eleutério Borba and Three Portuguese Bands in San Jose”, “A Madeiran Band Founder and Conductor in California”, “A Curious Musical Connection with the Azores” e “John Philip Sousa (1854-1932): America’s March King”.
O livro, impresso na língua de Shakespeare, com cinco capítulos, com rico grafismo, excelente fotografia e registos históricos que o enriquecem como importante documento histórica para futuras gerações, presta sem dúvida um enorme contributo para a memória coletiva lusa da Califórnia. A sua leitura é por isso recomendável.
