Ferreira do Amaral, o governador de Macau que foi decapitado

 

João Maria Ferreira do Amaral nasceu em Lisboa em 1803, numa família com tradição militar. Oficial da Marinha, foi enviado no início da carreira para o Brasil. Na Batalha de Itaparica, em 1823, que confirmou a independência brasileira, demonstrou grande bravura, continuando a lutar mesmo quando a bala de um canhão lhe desfez o braço direito e a derrota portuguesa começava a adivinhar-se. 

De regresso a Portugal, Ferreira do Amaral esteve entre as tropas liberais que vindas dos Açores desembarcaram no Mindelo em 1832. Depois da derrota definitiva em 1834 dos absolutistas, o que permitiu finalmente a D. Maria II ser monarca constitucional, Ferreira do Amaral continuou a carreira naval, com missões no Mediterrâneo e no Atlântico Sul. Chegou a estar baseado em Angola com a missão de capturar navios negreiros.

Em 1846, Ferreira do Amaral é nomeado governador de Macau, porto no sul da China controlado por Portugal desde o século XVI.  A tomada de Hong Kong pelos britânicos pôs muita pressão sobre os interesses portugueses no rio das Pérolas e o novo governador decidiu reforçar a soberania sobre o território. Uma das medidas foi a expulsão dos mandarins, que cobravam direitos alfandegários em Macau. Em resposta, durante um passeio a cavalo de Ferreira do Amaral, em 1849, um grupo de chineses atacou o governador. Depois de morto, cortaram-lhe a cabeça e a mão esquerda.

A retaliação foi o ataque a uma fortaleza chinesa, que apesar do desequilíbrio de forças acabou numa simbólica vitória portuguesa na chamada Batalha do Passaleão. Uma estátua de Ferreira do Amaral chegou a ser erguida em Macau, mas antes da devolução da cidade à China, em 1999, foi trazida para Lisboa.

 

* Jornalista do DN. É doutorado em História e autor do livro ‘Encontros e Encontrões de Portugal no mundo’.