Os Fusíadas da América do Norte (2)

 

   
Em finais de outubro de 1994 surgiram em várias casas comerciais portuguesas os cartazes que anunciavam o segundo convívio ribeiragrandense da Nova Inglaterra.
Bilhetes à venda nas cidades de Fall River, New Bedford, Taunton, Cambridge, Central Falls, Somerville, Providence e East Providence.
Em destaque três convidados de honra, vindos da Ribeira Grande: Dr. António Pedro Rebelo Costa, presidente da Câmara Municipal da Ribeira Grande (eleito nas autárquicas de 1993); Sr. José Gabriel da Ponte Bicudo Melo, comandante operacional dos Bombeiros voluntários da Ribeira Grande; Padre Manuel de Medeiros Sousa, ex-pároco e prior da Igreja Matriz da Ribeira Grande.
Entretenimento com Josefina Couto, Jorge Silva e Grupo Folclórico Infantil da Associação Cultural Lusitânia.
Mestre de cerimónias, o inconfundível Dinis Paiva.
Domingo, 20 de Novembro de 1994. O Dia de Ação de Graças  seria a quatro depois.
Foi neste dia que se iniciou a tradição de se dedicar a missa do meio-dia, na Igreja do Senhor Santo Cristo dos Milagres, em Fall River, a todos os ribeiragrandenses, pelas intenções de cada um. Padre Manuel Medeiros Sousa foi o celebrante. No ano anterior tinha sido o Padre Edmundo Pacheco, mas as intenções não foram diretamente viradas ao povo da Ribeira Grande.  
A seguir à missa, à uma hora da tarde, o restaurante White’s of Westport abriu as suas portas e a festa começou.
O comandante dos bombeiros trouxera consigo o Fogo, e distribuiu-o por todas as mesas. Guardámos um exemplar. Trata-se do boletim informativo bimestral que aquela associação humanitária publicava, sob a direção do saudoso amigo Armindo de Melo Moreira da Silva. Era de novembro daquele ano (Ano II – nº10). Por isso, a primeira das oito páginas veio manchada de abraços e cumprimentos aos fuseiros da Nova Inglaterra. Com um “Cumprimento” de Viriato Madeira, e um “Abraço Amigo” de E. Manuel, no editorial.
Sim, E. Manuel era o pseudónimo que o Padre Edmundo Pacheco usava em muitas das suas escritas, nomeadamente na sua colaboração com os jornais açorianos.
De tudo o que ele escreveu, destacamos a parte que nos tocava, relacionada com o fato de estarmos a par dos concursos de manobras em que os bombeiros participaram, levando além fronteiras o nome da Ribeira Grande. Por isso, afirmou estar convencido que o Comandante José Gabriel ia ser “alvo de aplauso e de satisfação por parte dos nossos emigrantes”; e banhado por nostalgia, o Sr. Padre Edmundo acrescentou:
“Quem esteve, o ano passado, na realização da Festa dos Ribeiragrandenses sentiu profundamente o calor e a amizade deles ao encontrarem-se para a celebração da Festa, em boa hora criada por uma equipa, unida e forte, sob o comando do José Salvador.
Não se pode descrever o que foram aquelas horas, desde a missa até ao almoço, recheado não apenas de saborosa comida, mas, sobretudo, com as mais diversas manifestações de alegria, ao verem-se pessoas que de há muito não se tinham visto nos Estados Unidos. Nesses encontros, muitas lágrimas e, principalmente, muitos propósitos de serem cada vez mais os Ribeiragrandenses (e seus descendentes) nesta festa anual.
Os nossos ‘irmãos-emigrantes’ podem orgulhar-se dos nossos Bombeiros, sempre prontos a honrar o nome da nossa terra, como, também, os ‘Soldados da Paz’ sentem orgulho pelo prestígio que os nossos emigrantes têm no trabalho, na honestidade e nos melhores sentimentos, bem evidentes na sua vida em terras americanas.”
O segundo convívio ribeiragrandense da Nova Inglaterra decorreu um pouco mais suave do que o primeiro, por várias razões. Sobretudo porque os descuidos verificados no primeiro serviram de lição. Mas, mesmo assim, algumas pessoas perderam-se na sala, e tiveram dificuldades em regressar às suas cadeiras. Como foi o caso do padrinho Ferreira Moreno, que se encontrava de passagem por esta região. Por nada deixaria de participar na confraternização da sua gente. Por isso lá esteve. Mas foi, por várias vezes, dado como perdido, e reencontrado.
Na edição de 23 de Novembro do semanário O Jornal, a reportagem do segundo convívio, nas palavras de Manuel F. Estrela começa assim:
“Linda, bela, acolhedora, paraíso... É a Ribeira Grande. Ninguém a esquece. Terceira cidade dos Açores, segunda em tributação, primeira no coração dos seus filhos, essencialmente nos ausentes, nos emigrantes.”
O jornal Portuguese Times intitulou a reportagem do acontecimento com esta frase: “600 naturais do concelho da Ribeira Grande reunidos em alegre confraternização”.
João Luís Pacheco foi o presidente da comissão do segundo Convívio. Neste ano registou-se na sala um grande número de políticos locais. Tais como: Mayor de East Providence, Rolland Grant; vereadores de Fall River, Alfredo Alves e João Alberto; Deputado estadual de Massachusetts, Tony Cabral.
Também é digno de registo o facto de, naqueles dias, se ter tentado dar mais dinamismo à força fraca da geminação de East Providence com a Ribeira Grande, tendo o Dr. António Pedro Costa visitado o  “city hall” da cidade americana, com José Gabriel da Ponte Bicudo e o sr. Padre Manuel Medeiros Sousa.
O jornal Portuguese Times, na edição de 24 de Novembro de 1994, completou a reportagem do segundo convívio com uma fotografia, na qual se pode ver o autarca ribeiragrandense e o nosso comandante dos bombeiros na Ribeira Grande Avenue, em East Providence, RI.
Segundo o mesmo jornal, “acompanharam ainda a comitiva João Pacheco, presidente do convívio-94 e José Faria”, que assumiria a responsabilidade no ano seguinte.
“No mastro do ‘City Hall’, ladeada pelas bandeiras De East Providence e do Estado de Rhode Island, estava içada a bandeira da Ribeira Grande, de modo a que todos os que utilizavam a movimentada ‘Ribeira Grande Avenue’ tivessem conhecimento que a segunda-feira era dedicada aos naturais da Ribeira Grande.”
Também foi neste segundo convívio que surgiu a ideia de se fazer um convívio de emigrantes na terra de origem. Manuel F. Estrela, na reportagem da festa de O Jornal (23 de novembro de 1994), diz-nos que “o Padre Manuel Medeiros Sousa trouxe uma carta da Escola Secundária, desejando que se realizasse na Ribeira Grande uma festa-convívio deste género, com a participação de elementos da diáspora, oferecendo as respetivas instalações, proporcionando um intercâmbio sempre muito útil e salutar, salientando aquele sacerdote que seria um grande erro não continuar estes convívios que estreitam laços de amizade nos corações dos ribeiragrandenses”.
Em jeito de “fuseirada”, com permissão do nosso amigo Erdalfo, desejamos acrescentar a estas notas que, nesta segunda confraternização já se notou algum movimento feminino, ao contrário daquilo que se viu na primeira. Mas, ao que parece, foram mulheres sem nome. Porque segundo o Portuguese Times, a comissão organizadora deste segundo convívio era composta por estes nomes: João Pacheco, Salvador Couto, José Faria, Manuel Gaipo, Álvaro Pacheco, Jorge Silva, Fernando Raposo, Liberal Batista, Benjamim Calouro, João Câmara, António Pacheco e José Aguiar. 
Nesta festa também esteve uma presença ilustre, da qual pouco ou nada se divulgou, nem no recinto da festa, nem no ramal da imprensa escrita, aonde tanto colaborou. Trata-se do “romeiro da saudade”. Uma figura tímida, que pouco falava sonoramente em público, para além dos espaços da Igreja. Estamos a falar de Father Joe, da Califorlândia, conhecido nos jornais por Ferreira Moreno. Uns dias depois, nas nossas conversas de sábado à noite, acabou por confessar-nos que se havia “regalado” naquela bendita festa.
De opinião geral, o segundo convívio ribeiragrandense da Nova Inglaterra foi um sucesso, que tal como o primeiro inspirou continuação.
Continuação também terá esta história, na próxima semana, se Deus quiser. Haja saúde!

Por onde quer que se ande
Não há terra d’alegrias
Como a Ribeira Grande
E as suas freguesias.