Do discurso do Estado da Nação até novembro de 2024: A estabilidade e a renovação são vitais para o futuro da América

 

“O Estado da União não é apenas um relatório 
sobre a condição da nossa nação; 
é uma declaração de valores, 
de esperanças, de sonhos.” 
- Jimmy Carter, 39º Presidente dos EUA

O recente discurso do Presidente Joe Biden sobre o Estado da União suscitou uma grande variedade de reações por parte do público e dos meios de comunicação social. Tratando-se de um momento crucial da sua presidência, todas as atenções centraram-se em Biden, que descreveu as realizações, as prioridades e a visão de futuro da sua administração.  O discurso era esperado com alguma expectação, já que a idade de Biden, e alguns comportamentos, têm suscitado apreensão, particularmente dentro das hostes do Partido Democrático.  No seio da classe política americana, e no círculo de jornalistas e comentadores, tem havido um debate constante sobre o tom que tem dado à campanha para a sua reeleição, afligindo alguns democratas, que o classificaram de “água-morna.” Num ano em que, literalmente, a democracia americana está em jogo, a “performance” de Biden neste discurso era importante, e pode dizer-se, sem o mínimo de exagero que “deu cartas.” Mostrou-se conhecedor de todos os assuntos importantes para a América e para o mundo, e com uma energia, verdadeiramente admirável.  Biden proferiu um discurso combativo sobre o Estado da União, no qual estabeleceu contrastes acentuados com o antigo Presidente Donald Trump e os republicanos no Congresso.  Ouvimos um Joe Biden agressivo e eficaz, que apresentou uma visão clara para a América e as suas políticas para o futuro.  Este Joe Biden pode ganhar as eleições em novembro.  A democracia precisa que ele ganhe.
Um dos temas centrais do discurso do Presidente Biden sobre o Estado da União foi a unidade. Ao longo do seu discurso, Biden enfatizou a importância de nos unirmos como nação para enfrentar os desafios prementes que o país enfrenta. Desde os efeitos da pandemia COVID-19 às alterações climáticas, até à desigualdade económica, Biden apelou à unidade e à cooperação entre partidos para enfrentar estas questões. Esta mensagem ressoou em muitos americanos que estão cansados da divisão que tem definido o discurso político recente.  Claro que o tom da união não perlongou muito para ser demolido.  Mesmo em temas onde existem pontos comuns a maioria dos republicanos no Congresso, eternamente prostrados perante o Magnata com 91 ações criminosas e civis em tribunal, não mostraram qualquer sinal para trabalharem em conjunto e resolverem alguns problemas estruturais, nos quais até existem alguma cconcordâncias.  Joe Biden não desanimou com os assobios e os insultos de um Partido Republicano subjugado ao terrorismo interno de Donald Trump. “Cheguei ao cargo determinado a que juntos ultrapassássemos um dos períodos mais difíceis da história do país”, disse Biden. “Conseguimos. Não é notícia na comunicação social, mas é notícia em milhares de cidades e vilas, onde o povo americano está a escrever a maior história de regresso à normalidade, jamais contada.”  O refrão de Biden sobre o regresso americano é incisivo. Alcança dois objetivos em simultâneo: relembra aos eleitores que há algo de que a América está a regressar - nomeadamente, os desvios da pandemia e o estilo de gestão selvagem e errático que Trump nos trouxe - e permite que Biden indique o progresso sem declarar vitória total. É a mensagem certa para um candidato à presidência.  
Em termos de estratégia de mensagem, o Presidente Biden utilizou uma combinação de empatia, esperança e determinação para estabelecer uma ligação com o seu público, mais de metade com alguma hostilidade. Partilhou histórias pessoais de pessoas que foram afetadas pelas políticas da sua administração, demonstrando o seu empenho em responder às necessidades dos americanos comuns. Biden também adotou um tom otimista, salientando os progressos alcançados em áreas como a criação de emprego, o desenvolvimento de infraestruturas e a reforma dos cuidados de saúde. Ao sublinhar a resiliência e a força do povo americano, Biden procurou inspirar esperança e confiança na capacidade da nação para ultrapassar os desafios que nos enfrentam. Foi um discurso adequado ao momento político, uma vez que Biden enfrenta uma esperada desforra contra Trump e tenta fazer passar a sua agenda por um Congresso polarizado.  Enquanto os republicanos encontraram várias ocasiões para zombar, os democratas irromperam em gritos de “mais quatro anos!”
A reação dos meios de comunicação social ao discurso do Presidente Biden sobre o Estado da União dividiu-se, em grande medida, nas tradicionais linhas partidárias. Os meios de comunicação conservadores tenderam a centrar-se nas falhas detetadas no discurso de Biden, como a falta de pormenores sobre as principais iniciativas políticas ou a resposta da administração à crise na Ucrânia. Alguns comentadores criticaram Biden por não ter ido suficientemente longe na abordagem de questões como a inflação, o aumento dos preços dos combustíveis e a segurança nas fronteiras. Por outro lado, os meios de comunicação social mais progressistas elogiaram o discurso de Biden pela sua abordagem inclusiva e orientada para o futuro, destacando o seu empenho na justiça social, na ação climática e na equidade económica.   Mais importante do que os comentadores sentados nos seus altares de pés de barros, são as sondagens que nos mostram que, na generalidade, os americanos gostaram do que ouviram.  Com uma audiência de 32 milhões de americanos, as sondagens de várias redes noticiosas indicam que 65% dos inquiridos gostaram do discurso, e mais importante, alguns mudaram de opinião sobre o estado da nação: os telespectadores mudaram 17 pontos na perceção que tinham e têm sobre se o país caminha em sentido positivo – foram de 45% antes para 62% depois do discurso.  Porque como o Presidente já o afirmou várias vezes: ““Na realidade, não se trata de democrata ou republicano. Trata-se de quem somos como nação e de quem queremos ser para as gerações futuras.”   
Biden abriu o discurso com denúncias sobre a insurreição e os invasores do Capitólio a 6 de janeiro de 2021, destacou os republicanos na câmara que não tiveram uma posição forte em prol da democracia e o inimigo do Partido Republicano e do País: Donald Trump.  Recusou-se a pronunciar o nome de Trump, dizendo:  “o meu antecessor e alguns de vocês aqui procuram enterrar a verdade sobre o 6 de janeiro”.  O Presidente inseriu esta afirmação num tema mais vasto, segundo o qual a democracia está ameaçada como nunca esteve desde a Guerra Civil, assinalando uma linha de ataque clara que irá utilizar contra o homem que não quis nomear, e ainda bem, porque o menos que falta são forças democráticas a legitimarem os reacionários e neofascistas que infelizmente conseguem ser eleitos, um pouco por toda a parte.  Também criticou “o meu antecessor” pela afirmação de Trump de que o Presidente russo, Vladimir Putin, pode “fazer o que quiser” em relação aos aliados da NATO, e implorou ao Congresso que aprovasse ajuda adicional para a Ucrânia. Falando com um vigor que alguns dos seus apoiantes dizem ter faltado nos últimos meses, Biden estabeleceu um contraste entre a sua visão internacionalista do mundo e a tendência mais isolacionista do seu “antecessor”.  Foi importante este tom, o de relembrar a insurreição, motivada pelo antigo presidente, o comportamento dos congressistas meses depois, e o ajuste de contas que seria um governo americano presidido por Donald Trump. 
Biden delineou uma visão económica global com vários programas que sempre lhe foram especiais.  Não fosse ele conhecido, ao longo da sua carreira como: Middle Class Joe. Defendeu uma recuperação económica pós-pandemia que não sacrificasse a criação de emprego para controlar a inflação. Com os preços da habitação ainda elevados, propôs um crédito fiscal que reduziria os custos das hipotecas.  Também criticou os republicanos pelas políticas fiscais que favorecem os ricos. “Verifiquem os números. Alguém realmente acha que o código tributário é justo?”  Biden disse que deveria haver uma taxa mínima de imposto de 25% sobre os bilionários, dizendo que “nenhum bilionário deveria pagar uma taxa de imposto federal mais baixa do que um professor, um trabalhador de saneamento ou uma enfermeira.” O Presidente falou sobre o combate às taxas que podem afetar o orçamento dos americanos e criticou as empresas de snacks por “inflação de encolhimento”, o que significa obter menos produto pelo mesmo preço. “É-vos cobrado o mesmo valor e têm cerca de 10% menos no chocolate Snickers”.
Com algumas sondagens a mostrarem que há eleitores preocupados com a sua idade, Biden, de 81 anos, não se esquivou ao tema.  “Sei que posso não parecer, mas já ando por cá há algum tempo”, disse Biden em tom de folia. “E quando se chega à minha idade, certas coisas tornam-se mais claras do que nunca.” Referiu-se à sua idade para contrastar o seu otimismo em relação aos Estados Unidos com a visão de Trump, expondo o facto de Trump ser apenas quatro anos mais novo do que ele.  “Agora, outras pessoas da minha idade veem isso de forma diferente - uma história americana de ressentimento, vingança e retribuição”, disse Biden. “Eu não sou assim.” 
O discurso do Presidente Biden sobre o Estado da União gerou uma série de reações por parte do público e dos meios da comunicação social americana. Embora a sua mensagem de unidade e otimismo tenha ressoado em muitos lares americanos, outros continuam céticos quanto à sua capacidade de cumprir as promessas delineadas. No futuro, será fundamental que Biden continue a envolver-se com o público.  Ele está no seu melhor quando ouve as preocupações dos americanos e demonstra progressos tangíveis em questões fundamentais. Só o tempo dirá como a história julgará os primeiros quatro anos da presidência de Biden, mas o seu discurso sobre o Estado da União preparou o terreno para um período crucial de governação e de tomada de decisões.  Mais importante, nesta “fase do campeonato”, o discurso expôs um homem convicto e com garra para defrontar o seu opositor e a série de insultos que cairão até à primeira terça-feira de novembro deste ano em curso.   
Os democratas, a partir do Estado da União têm alguns ventos a seu favor.  Um deles é o contraste entre o positivismo e o negativismo.   Trump pinta a América como uma paisagem infernal; a sua visão de uma invasão racial e de um crime desenfreado (que estatisticamente não existe) destina-se a manter os seus seguidores num estado de frenesim e desespero. Mas o drama exaustivo e a aura de mau presságio que paira sobre Donald Trump podem não ser bem aceites. Certamente não o fez quando ele era presidente e estava a fazer campanha em 2020. Os especialistas por vezes retratam Biden como oferecendo “normalidade”. Embora essa normalidade não seja exatamente “esperança e mudança”, Biden transmite uma fé inabalável na América e na promessa de progresso que os americanos historicamente abraçam.