Herança Portuguesa na Índia: cariz religioso

 

Inicialmente houve respeito pela religião e tradições hindus, pois pretendia-se que a cidade, nomeadamente Goa, mantivesse os seus habitantes com esta liberdade, tal como o desenvolvimento do comércio e da agricultura. 
Os que adoptaram o Cristianismo como religião mantiveram a sua posição social, sendo privilegiados com altos cargos na administração local, mas a Inquisição duvidou da conversão ao Catolicismo. Assim o uso da violência marcou presença destruindo os templos hindus, e construindo sobre os seus alicerces igrejas e conventos. O centro desta intensa acção foi a Velha Goa.
A igreja deparou-se com uma civilização onde não era possível impor-se, mas sim integrasse no seu seio através da língua local, a fim de prosseguir a sua missão evangelizadora. A isto deve-se a pouca difusão da língua portuguesa. As pessoas cultas falavam português entre si, mas na grande maioria utilizavam o koncanim com os empregados e população em geral.
Quanto à reduzida mistura de raças isto deve-se ao rigoroso sistema de castas hindus que forma diferentes grupos sociais: Brâmanes (sacerdotes, professores), kxatrias (guerreiros), Vâichias (comerciantes), Sudras (criados e serviçais) e Párias (intocáveis/impuros). Este sistema de castas apresentava regulamentos rígidos no que diz respeito à alimentação, submissão hierárquica, viuvez perpétua, casamento apenas entre membros da mesma casta, onde se opunha à penetração de estranhos, neste caso dos portugueses. Assim os portugueses impedidos de criar uma população mestiça, criaram o grupo dos descendentes, que eram naturais de Goa com ascendia portuguesa.
Isto levou à necessidade da criação de castas cristãs, como forma de evangelizar o povo indiano: Brâmanes (encarregues do sacerdócio, administração e profissões liberais), Chardós (guerreiros e comerciantes), Sudras (camponeses ou artificieis), Corumbins (trabalhadores braçais) e Farazes (corresponde aos intocáveis hindus e encarregues dos serviços menos dignos, mas, no entanto, ajudavam a igreja, sendo no geral os cozinheiros dos padres).
Goa como mistura da cultura latina e indiana preservou um numeroso conjunto de igrejas e conventos como símbolo e herança da acção missionária portuguesa na Índia. A influência da nova ideologia religiosa e da arte manuelina e maneirista, assim como do barroco português, tiveram um percurso notável na cultura hindu. 

Destaca-se o Mosteiro de São Francisco de Assis com cruzarias em ogivas nas abobadas, a Basílica jesuíta do Bom Jesus em estilo neoclássico, onde foi instalada a primeira imprensa do Oriente. Destacam-se igualmente as igrejas de São Caetano, onde a sua cúpula tenta imitar o estilo da de São Pedro em Roma, a de Santa Catarina, a catedral da Imaculada Conceição, a igreja de Nossa Senhora do Rosário e a torre de Santo Agostinho, sendo o único elemento que restou de um antigo convento. Os arquitectos eram os próprios missionários: jesuítas, agostinhos e teatinos. Foram fortemente influenciados pelo maneirismo italiano nas fachadas dos edifícios, embora no interior optassem por uma decoração barroca.
Quanto à decoração interior dos edifícios religiosos, as esculturas apresentam os santos católicos com rostos e expressões totalmente indianos. Esta nova corrente apareceu pela primeira vez em Kerala, de habilidades feitas por mãos nativas, reuniram-se numa deslumbrante exibição de madeira pintada a ouro nos altares e púlpitos das igrejas. Os interiores foram enriquecidos com colunas salomónicas, com deslumbrantes curvas barrocas, salientes e decoradas com painéis florais. Motivos como pérolas, cordas e auréolas faziam parte da decoração. Os suportes de templos hindus foram facilmente adaptados a púlpitos e retábulos. 
Era frequente a presença de figuras angelicais de tez escura com cabelos negros enfeitados com jóias. A túnica foi substituída pelo choli e pela saia usada por baixo do sari. Uso de colares e de pulseiras nos braços, pulsos e também tornoseleiras, não esquecendo a presença do bindi na testa. Alguns anjos assumiram figuras masculinas onde a sua representação muito se assemelhava ao vestuário dos deuses hindus.

Imagens ou estátuas religiosas de santos, de Maria ou de Cristo constituiam a numerosa herança no que diz respeito à escultura. Assim, o Menino Jesus de marfim frequentemente fazia parte do dote matrimonial ou imagens como a Senhora de Valenkenim, eram objecto de grande devoção católica.

Para mais informações note-se as obras “História da Arte Portuguesa” de Paulo Pereira, “Goa e as Praças do Norte Revisitadas” e “No Trilho dos Descobrimentos Portugueses: Estudos Geográficos” de Raquel Soeiro Brito, “Aspectos e Problemas da Expansão Portuguesa” de Orlando Ribeiro ou “A Índia” de Raghavam.

                                  

Este texto não segue o novo acordo ortográfico da Língua Portuguesa.