Os Açores sempre foram um cais de partida.
Vivemos nas nossas ilhas há quase 600 anos e há mais de 400 anos que delas saímos. Mas nunca as deixamos para trás e sempre nos lembramos delas.
Com a distância e com a saudade, ficamos até a gostar ainda mais das nossas queridas ilhas.
Levamo-las connosco, no nosso pensamento e no nosso coração, e construímos novas ilhas, iguais às nossas, em novos continentes.
É essa a sina do nosso povo.
Tem a razão na terra de acolhimento, mas mantém a emoção na terra de nascimento.
Isso projeta, afirma e dignifica os Açores para além das fronteiras da Região.
Isso faz do povo açoriano um povo transatlântico e torna a sua cultura identitária numa açorianidade global.
Os Açores só ficam verdadeiramente completos com as suas décimas ilhas.
É por isso que assim evocamos, com respeito e reconhecimento, a saga migratória de um povo, resiliente e corajoso, que enriquece e engrandece as nossas ilhas no mar e no mundo.
Primeiro, abraçámos o Brasil de Norte a Sul, desde Maranhão e Pará até Santa Catarina e Rio Grande do Sul, passando por Espírito Santo e Minas Gerais, acabando no Rio de Janeiro, São Paulo e Bahia. E chegámos até ao Uruguai.
Depois, trocámos a América do Sul pela América do Norte, quer nos Estados Unidos, desde a Nova Inglaterra até à Califórnia, quer no Canadá, seja no Ontário ou no Quebeque. E chegámos ao Havai e à Bermuda.
Os Açores sempre foram um cais de partida, mas agora também são um porto de abrigo.
Segundo o último relatório do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras relativo ao ano de 2022, residem oficialmente nas nove ilhas 5.123 cidadãos estrangeiros, provenientes de 97 países diferentes.
São 2.582 homens e 2.541 mulheres, evidenciando uma paridade crescente e já quase perfeita.
Este número representa um aumento de 12,5% em relação ao ano anterior e já corresponde a 2,1% do total da população residente.
As últimas duas décadas apresentam, em geral, uma tendência crescente no número de cidadãos estrangeiros residentes nos Açores, com 2.605 em 2001, 3.402 em 2011 e 4.480 em 2021.
Importa esclarecer que a estatística dos estrangeiros não considera, naturalmente, os cidadãos que não nasceram em território português, mas que já adquiriram nacionalidade portuguesa, pelo que, na realidade, estaremos a falar de muitos outros milhares de imigrantes residentes nos Açores.
Tomando por referência o relatório do SEF, os estrangeiros residem em todas as nove ilhas, nos 19 concelhos e em muitas nossas 155 freguesias.
Estão 2.337 na ilha de São Miguel, 833 na ilha do Faial, 764 na ilha Terceira, 571 na ilha do Pico, 204 na ilha de Santa Maria, 183 na ilha das Flores, 161 na ilha de São Jorge e 12 na ilha do Corvo.
Proporcionalmente à população residente, o Faial é a ilha mais intercultural dos Açores, porque os cidadãos estrangeiros já representam 5,8% do total de residentes.
Nas Flores os estrangeiros são 5% da população local e no Pico 4,2%.
A nível municipal, o concelho com maior número de estrangeiros residentes é Ponta Delgada, com 1.571, mas o mais intercultural é Lajes das Flores, onde os estrangeiros já representam 8,6% da população local.
De entre os 97 países de onde são naturais os 5.123 estrangeiros residentes nos Açores, destaca-se o Brasil, com 1.021 cidadãos, correspondendo a 20% do total de não nacionais.
No Top 10 das nacionalidades mais representativas, os outros nove lugares são ocupados por seis países europeus, um americano, um asiático e um africano, nomeadamente: Alemanha com 584 cidadãos, Estados Unidos da América com 466 (sem contar com o destacamento militar da Base das Lajes), China com 337, Espanha com 304, Reino Unido com 262, Itália com 245, França com 204, Cabo Verde com 200 e Holanda com 150.
Mas já vamos aqui encontrar cidadãos residentes que nasceram na Albânia, no Egipto ou na Etiópia, no Nepal, na Arménia ou no Irão, na Islândia, na Jamaica ou no Uzbequistão.
São todos bem-vindos porque vêm por bem.
Vêm compensar a nossa erosão demográfica natural, vêm colmatar a carência de mão de obra local, vêm ajudar a desenvolver os Açores.
Nós, que sempre fomos bem acolhidos e bem integrados nos nossos destinos de emigração, temos a obrigação de bem receber na nossa terra também.
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Diretor Regional das Comunidades no Governo da Região Autónoma dos Açores. Baseado num texto do seu livro Transatlântico II – Açorianidade & Interculturalidade (2024)